"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 1 de outubro de 1991

O PARQUE DA CIDADE E O COMANDO MILITAR DO OESTE

 

Parque Mãe Bonifácia (foto:odocumento.com.br)

José Antonio Lemos dos Santos

     Em gentil atenção ao nosso artigo da semana passada, o vereador Vicente Vuolo enviou cópia do seu projeto sobre o Parque da Cidade, esclarecendo que ele não estabelece a área do 44' BIM como o local de sua futura instalação. Esta área entra na justificativa do projeto apenas como uma sugestão, sendo proposta uma Comissão para a escolha da localização mais adequada, a qual terá total liberdade para optar por uma outra área, se isto for necessário à viabilização do reencontro urbano da população com a natureza. 

     Estas informações destacam ainda mais a importância do projeto do jovem vereador, pois, mesmo vetado, serviu para evidenciar o quanto de expectativa existe na cidade por um parque como o proposto, servindo também para mostrar que o Exército não pode continuar sendo visto como uma instituição inacessível aos interesses das comunidades onde se instala, dispondo-se a conversar sobre o assunto. Por sua vez amplia a validade de uma contraproposta ao próprio Exército em termos de sua área no "Mãe Bonifácio": uma área também central, de dimensões maiores às do 44' BIM, com acesso facílimo pela Perimetral e bem conservada em sua vegetação natural. Lá o Parque da Cidade já estaria praticamente pronto, bastando alguma limpeza e uma infraestrutura leve de manutenção e apoio que pode ir sendo instalada aos poucos. Um parque é antes de tudo uma área verde, o resto é complemento. 

     A questão do Parque da Cidade, me fez lembrar um assunto que merece especial atenção: por ocasião da instalação do Comando Militar   do Oeste em Campo Grande a imprensa noticiou, com destaque, que a sede daquele Comando em 1990 estaria instalada em Cuiabá. Como já aconteceu uma situação semelhante com a finada SUDECO, — que também se instalou "provisoriamente", em Brasília, lá ficando até sua extinção —, guardei os recortes do noticiário para ver em que pé as coisas iam ficar. A instalação em Campo Grande se deu em 1986, 9 de janeiro, e de lá para cá não tive conhecimento de nenhum desmentido, fazendo-me supor que meus recortes ainda continuam válidos. O Comando não veio até hoje e. o que é pior, não vi manifestação alguma no sentido de perguntar, cobrar. ou qualquer outra atitude que fosse no sentido da viabilização, ou sequer, do esclarecimento de tão importante notícia. 

     Apesar da lembrança não pretendia escrever sobre o assunto, para não misturar as coisas quando tudo parece ir tão bem em relação ao nosso primeiro parque urbano. Entretanto, na semana passada a imprensa nacional divulgou uma outra notícia dando conta que o Exército pretende fiscalizar diretamente a "fronteira andina do país", do Paraná até Roraima, para impedir a penetração dos tóxicos. Nesse caso o Comando Militar do Oeste teria importante papel a desempenhar pois sua atribuição vai de Mato Grosso do Sul até Rondónia, quase a metade da tal fronteira a ser defendida. Vencer a guerra contra as drogas talvez seja hoje o projeto nacional de maior prioridade para a população brasileira, em cujas batalhas assiste impotente à imolação de sua juventude. A entrada do Exército Nacional nessa luta é a única esperança que pode ser vislumbrada. 

     Tanto para o bem como para o mal Cuiabá tem localização estratégica nesse vasto campo de batalha um território marcado em seus limites pelo suor e pelo sangue de sua gente. em episódios como as defesas de Dourados e de Barão de Melgaço, da Retomada de Corumbá, ou da epopeia de Rondon. Cuiabá poderia retomar patrioticamente o assunto. dispondo-se a oferecer todas as facilidades possíveis para que o Comando Militar do Oeste reavaliasse suas conveniências e possibilidade de vir se instalar no centro do seu palco de operações. A indiferença em relação à possibilidade de instalação de um Comando Militar em nossa cidade, pode ter sido explicada por certos receios que, justificados ou não, cercavam a imagem de nossas Forças Armadas. Nestes novos tempos, deixar de abordar este assunto pode até dar a impressão de pouco caso, como se a presença de um quartel a mais ou a menos, ainda que Quartel General, não fizesse diferença alguma na vida de uma cidade como a nossa. Certamente esta impressão não é verdadeira. Se for bom para o Brasil que o Comando Militar se instale em Cuiabá, para Cuiabá e para os cuiabanos será melhor ainda. 

(Publicado pelo extinto JORNAL DO DIA, em 01/10/1991)


terça-feira, 20 de agosto de 1991

A RÓTULA DE ACESSO AO CRISTO-REI


José Antonio Lemos dos Santos      

     Algumas indicações de projetos feitas na Câmara de Vereadores de Cuiabá passam quase desapercebidas quando mereceriam maior atenção e destaque pela importância que envolvem para a vida da cidade. Uma delas refere-se à duplicação da Ponte Nova e da Avenida Dom Orlando Chaves até avenida da FEB. Apresentada pelo vereador Júlio Muzzi, esta proposição apresenta algumas dimensões que precisam se consideradas e aplaudidas.

     Uma, é a coragem política de atravessar o Rio Cuiabá, fato que deveria ser corriqueiro, mas que, infelizmente, não o é. Embora dividida em 2 municípios, a cidade real em que vivemos é uma só, a Grande Cuiabá. A continuidade física, funcional e fraternal faz do Rio Cuiabá um elemento de união, de ligação ao invés de uma barreira, ou um obstáculo de afastamento. Assim, devem ser saudadas as iniciativas que investem em um moderno espírito colaborativo entre os filhos do Cuiabá, ainda que habitantes de suas diferentes margens; ainda que cidadãos d municípios diferentes. Em assuntos de interesse comum, e a cidade é um deles, não seria nada demais que os governos, executivos e legislativos, se procurassem para somar suas forças, afinal junto os 2 municípios abrigam um terço ou mais da população mato-grossense, e suas sedes juntas formam a maior cidade do Oeste brasileiro. Essa integração é uma tendência inexorável, inclusive já prevista na Constituição Estadual quando autoriza a criação de Regiões Metropolitanas e Aglomerados Urbanos.

     Outra dimensão da referida proposta é sua importância urbanística. Olhando o mapa da Grande Cuiabá é fácil ver que o trecho fica no centro do núcleo urbano e envolve um de seus mais importantes cruzamentos, onde são frequentes acidentes interrompendo a fluidez daquela que é uma verdadeira espinha dorsal da cidade. Ligando o CPA ao Trevo do Lagarto, numa extensão de mais de 20 km, essa grande via dá ainda acesso ao Aeroporto Marechal Rondon, um dos principais portões de entrada da cidade.

     Ainda que a ponte não seja duplicada imediatamente, uma obra mais cara, é de extrema urgência que se resolva de maneira definitiva a interseção da Avenida Dom Orlando Chaves com a Avenida da FEB resolvendo também a questão do acesso ao bairro Cristo Rei. O vereador Muzzi poderia incorporar à sua proposta a interligação dos 2 segmentos da avenida Dom Orlando Chaves que hoje encontram-se desligados. De avião ou em uma foto aérea pode-se ver com nitidez que a referida avenida sofre uma descontinuidade de no máximo uns 500 metros quando se aproxima da Avenida da FEB. O próprio fato dos 2 segmentos terem o mesmo nome indica à existência ao menos de uma ideia de interliga-los, dando forma aquela que deveria ser uma das mais belas avenidas da grande Cuiabá em continuidade a Miguel Sutil.

     Esta obra pode inclusive ser preocupação do Vereadores de Várzea Grande, da sua prefeitura e até do governador do estado, que foi prefeito. Seria muito oportuno o somatório de esforços entre Cuiabá, Várzea Grande e o Governo do Estado para realização desta dessa obra que vai ajudar a todos, em especial facilitando em muito a vida dos moradores do Cristo Rei e adjacências. Qualquer dia desses acabam construindo um ou mais de um edifício no eixo da ligação pretendida tornando-a muito mais difícil, ou mesmo inviabilizando-a. por enquanto é um projeto de baixíssimo custo em face em face a seus benefícios.

     Apresentado neste mês de agosto que marca os 10 anos da morte de Dom Orlando, esta proposição talvez tenha tido também um sentido de homenagem. De qualquer forma a importância da proposta recomenda que se avance mais um pouco. Trata-se de um dos cruzamentos mais importantes da cidade que precisa ser tratado de maneira urgente e completa. Não podemos repetir soluções parciais como os viadutos do CPA e do Pico do Amor, que por não estarem completos com suas alças de acesso, hoje constituem sérios pontos de estrangulamento urbano cujos reparos dependerão de muita criatividade e muito dinheiro. Com pouco coisas mais poderiam ter sido construídos completos. Pois então, que nos sirva de lição.

Publicado no jornal do dia em 20 08 91 

quarta-feira, 10 de abril de 1991

CUIABÁ DE ONTEM E DE HOJE

 José Antonio Lemos dos Santos

     Ikuiapá, lugar onde se pesca com arpão, assim era conhecido pelos Bororos aquele lugar onde o córrego da Prainha desemboca no Cuiabá. Embora tão sujo e desprezado, feio mesmo nos dias de hoje, aquele pedaço de Cuiabá tem muita história para contar, história da origem de nossa cidade, que também é a origem de nosso estado e da ocupação de todo este “Ocidente do imenso Brasil”. Por aquela foz podia-se acessar o “córrego das estrelas”, Ikuiebo para os Bororos, hoje Avenida Ten. Cel. Duarte. Segundo a Enciclopédia Bororo, as estrelas do córrego eram as pepitas douradas, cintilantes como estrelas no chão nas noites enluaradas. 

     Julga ainda a referida Enciclopédia que o nome Cuiabá “não seja outra coisa que a corrupção e sonorização de IKuiapá”. Nada mais convincente. Ora, se aquele lugar, que hoje está no centro da Grande Cuiabá, tinha um nome como esse, tão parecido ao atual, Ikuiapá/Cuiabá, qual a necessidade de outras explicações? Nada como “gente caída”, “cuias perdidas”, ou coisas que tais, nada pode ser tão diretamente explicativo como a beleza simples, sonora, de objetividade toponímica de Ikuiapá.

     Cuiabá completa 272 anos. As cidades nascem para serem eternas, assim para elas o tempo não tem outro sentido que não o de dimensionar a história acumulada, seu estoque cultural, o que só não é importante para quem não tem. Contudo, não é o tempo que define sua juventude ou velhice. Roma, Paris Veneza parecem eternamente jovens, enquanto que outras, de origens muito mais recentes, já se apresentam tão velhas.

     Cuiabá, apesar de viver o seu terceiro século de existência, parece estar numa espécie de adolescência urbana, vivendo uma fase plena de transformações estruturais que a conduzirão a novos patamares qualitativos enquanto cidade. Tanto para a cidade como para as pessoas, este é um período muito rico, mas também decisivo na formação de sua personalidade futura, na medida em que nela são feitas algumas opções irreversíveis. Cuiabá vai receber seu milionésimo habitante ainda nesta década e sua expansão inevitável de forma humana e sem o sacrifício de seu magnífico patrimônio ambiental. Pode, e é nossa a responsabilidade da escolha.

     Institucionalmente Cuiabá dispõe hoje de todo um conjunto de mecanismos suficientes para realizar suas opções e orientar seu destino. Sua Lei Orgânica instituiu a Política Municipal de Desenvolvimento Urbano a ser implementada através de um complexo no qual se articulam os principais agentes produtores da cidade, oficiais e civis, somando seus esforços em torno da grande obra comum em andamento. O Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU), o Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento Urbano (IPDU) e o Plano Diretor (PDDU) são algumas das peças chaves deste sistema, que, uma vez criadas, reclamam a participação cidadã para seu funcionamento.

     A cidade vive dos que vivem nela, como nos ensinou Alves de Oliveira. Ela não é uma dádiva dos deuses ou de administradores, e sim o resultado concreto do esforço de seus cidadãos. Ikuiapá, Cuiabá nos seus 272 anos tem muito a comemorar: um passado exuberante, um rico presente e, principalmente, as extraordinárias possibilidades de construir um belo futuro. Se a cidade somos nós, estamos todos de parabéns. 

(Publicado em 10/04/1991 pelo extinto Jornal do Dia, de Cuiabá)


sábado, 16 de fevereiro de 1991

A NOIVA DO SOL

José Antonio Lemos dos Santos



      Na letra do Hino de Mato Grosso quando D. Aquino fala em "terra noiva do sol" certamente ele se refere a Cuiabá, em especial às suas condições de convivência prazeirosa com elevadas temperaturas. Principalmente nos dias atuais em que o asfalto e o concreto avançam, ninguém desconhece os efeitos do calor intenso em que vive a cidade. Todos sofrem, reclamam dele, transforma-se até em assunto obrigatório para quando não se tem por onde começar uma conversa.
     Assim, pouca gente se lembra ou tem condições de perceber que nossa cidade é a Cidade Verde - ainda – pois a natureza, sempre sábia, ao mesmo tempo que nos abraçou com seu calor intenso, ofereceu como contrapartida um sítio urbano densamente drenado com córregos e inclusive dois rios, além de uma invejável cobertura vegetal. Essa contrapartida jamais pode ser esquecida, ou mesmo confundida com "mato", "lixo", como vulgarmente são tratadas as coisas destinadas a serem inexoravelmente imoladas à sanha de um tipo pervertido de progresso.
     Ao contrário, é essa "mixagem", essa mistura de calor com muito verde e muita água que produz aquela condição climática gostosa tão lindamente definida por Carmindo de Campos como um "calor sadio, às vezes melhor, bem melhor que o frio". Daí também a imagem genial da "noiva do sol", cujo vestuário natural lhe cobre de verde, ornado com fios de água corrente, brilhantes e cristalinos, traje mais que apropriado, indispensável, à uma convivência ensolarada saudável.
     Nestas últimas décadas nossa cidade revitalizou-se, voltou a crescer de forma intensa, envolvendo as duas margens do rio que lhe deu origem e com indicações seguras de que ainda antes do final da década estará abrigando seu milionésimo habitante. Esse processo nada mais é que a realização da vocação de uma cidade fincada no coração de um continente, encontro de caminhos, junto ao divisor das águas amazônicas e platinas. Estrategicamente localizada, não foi à toa que nossa gente ficou por aqui por séculos mesmo quando todas as condições lhes eram desfavoráveis.
     A cidade vai continuar crescendo, e é bom que seja assim. O que interessa e exige a intervenção do interesse público é a qualidade desse crescimento. O progresso da cidade tem que se dar a favor de seus cidadãos e não contra.
     É possível isso? É. Para tanto existem as técnicas do Planejamento Urbano e as Leis urbanísticas; para isso a Constituição instituiu o Plano Diretor e os Poderes Públicos são dotados de poder de polícia. Entretanto para que essas coisas funcionem é preciso uma indubitável decisão política no sentido do controle da cidade, em clima de colaboração civilizada e de mútua confiança democrática, envolvendo não apenas as autoridades executivas e legislativas, mas a comunidade como um todo.
     O que estamos fazendo, ou deixando que façam com nossos rios córregos e área verdes é um crime. As margens do Cuiabá estão sendo totalmente invadidas, e não mais por habitações, mas por atividades de comércio que muito bem podem ser desenvolvidas em outros lugares. Existem soluções viáveis não só para a Beira-Rio como também para nossos córregos, que podem se integrar à vida de uma cidade verdadeiramente moderna sem perder a naturalidade de seus leitos e margens, e, justamente por eles, funcionarem como equipamentos urbanos de lazer, de dissipação de calor ou ainda como eixos de grandes e necessárias vias estruturais circulares.
     A natureza deu para nossa cidade um clima especial e as condições naturais de adequação a ele. Cabe a nós decidirmos o que fazer delas, por ação ou omissão. Infelizmente, não seremos nós a pagar pela nossa eventual escolha errada ou tardia. Serão nossos filhos.

P.S. - Este texto é uma reverencia ao Morro da Luz, que, apesar de tudo, ainda pode continuar existindo como Parque, conforme define a Lei Municipal de Uso e Ocupação do Solo, de 1982.

(Artigo publicado pelo extinto Jornal do Dia em 16/02/1991 antes da desocupação da antiga feira do mercado do Peixe,  e da atual urbanização da Beira-Rio entre as pontes Nova e Velha, com a revegetação da margem do rio.)

sábado, 12 de janeiro de 1991

DE VOLTA PARA O FUTURO

 

José Antonio Lemos dos Santos

(Publicado pelo Jornal do Dia em 12/01/1991)

Coincidindo com o início de um novo ano, começam a vir a público os primeiros resultados dos trabalhos do Plano Diretor de Cuiabá, ao mesmo tempo em que despontam os primeiros candidatos à sucessão municipal de 1992. Seria muito bom que aqueles que já se colocam como candidatos, ou que ainda pretendem se colocar, tivessem acesso ao conteúdo desses trabalhos que vêm sendo produzidos pela Prefeitura através de seu Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento Urbano -  IPDU.

     A cidade de Cuiabá, o aglomerado como um todo ou apenas a sede do Município felizmente é um complexo extremamente dinâmico. Isso significa vantagens comparativas, potencialidade econômica e boas perspectivas de futuro, coisas que muitas cidades gostariam de ter, mas que não bastam por si só, precisam ser competentes competentemente administradas para não serem perdida. É importante que seus administradores tenham o máximo de conhecimento sobre a estrutura de todo esse dinamismo para 1) que a cidade possa tirar o melhor proveito possível de suas potencialidades e, 2) evitar que o processo de desenvolvimento se dê como “um tiro pela culatra” contra a qualidade de vida dos cidadãos.

     Uma vez democratizado o país em todos os seus níveis, é razoável esperar um novo perfil de campanha para a próxima sucessão municipal, no qual sejam privilegiados os problemas da cidade e as propostas efetivas para seu desenvolvimento. É importante a superação daquele discurso que dominou o Brasil de ponta a ponta e que se restringia a “baixar o pau” na administração que se sucede ou nos próprios candidatos, como se o eleito devesse ser sempre aquele com menos defeitos e não o de maiores virtudes.

     Cuiabá cresce muito e reclama soluções imediatas, voltadas para o futuro, visto que suas soluções mesmo para hoje não podem estar fora de uma perspectiva no mínimo de médio prazo. Dobrando a população, como o bom senso recomenda esperar,  não há como fugir da inevitabilidade da construção de uma outra cidade quase igual a esta atual até o final do século. Ela poderá ser melhor ou pior, dependendo das diretrizes que se seguir.  Por isso as proposições para médio e longo prazos também tornam-se tão urgentes.

     O conjunto de estudos que a prefeitura vem preparando e a base de planejamento que se espera implantada até o final desta administração, permitirão uma sólida discussão sobre o futuro de nossa cidade. Questões como o uso e ocupação do solo, energia, empregos, sistema viário, habitação, transportes, educação, saúde, meio ambiente, entre outras, não podem ser relegadas em função de “querelas” eleitoreiras sem nenhum sentido que não onde fazer jogo de cena. Como deixar de lado o crime que é a falta de acesso dos cuiabanos a todas as redes de televisão comumente acessíveis a todos os demais brasileiros? E a questão das da ferrovia? Como ela anda e como será sua conexão com a cidade? E o gerenciamento urbano? Como resolver a questão dos recursos viabilizadores de uma administração adequada para a cidade? Aliás, dizem as más línguas, que existem administradores que estão com medo de um dia aparecerem os recursos que tanto reclamam, pois assim perderiam o álibi para suas dificuldades administrativas. A falta de recursos estaria sendo altamente confortável para muita gente por esse Brasil afora. Entretanto, dentro em breve essa história não vai “colar” mais pois começam a circular exemplos de alternativas bem-sucedidas em lugares diversos mostrando que as soluções existem de fato.

     Pode parecer muito cedo para se pensar a sucessão municipal, entretanto, esta precocidade talvez seja muito oportuna na medida em que os candidatáveis venham se atualizar ou mesmo conhecer melhor os problemas do município preparando-se para transformar a próxima campanha eleitoral em um grande debate de ideias e proposições sobre a qualidade de vida de nossa gente, no qual o passado entre apenas como instrumental importante para a continuidade da grande construção de nossa cidade.


sábado, 5 de janeiro de 1991

CUIABÁ E O ANO DE 1990

José Antonio Lemos dos Santos


     Uma retrospectiva sobre o desenvolvimento de nossa cidade em 1990 não pode deixar de basear-se primeiramente nas grandes questões que se encontravam pendentes no seu alvorecer, entre elas a ligação ferroviária, a hidrelétrica de Manso e a saída para o Pacífico.
     E, 90, logo após sua posse, o presidente Collor esteve na fazenda Itamaraty, do mesmo proprietário da Ferronorte, dando a entender q importância da chamada ferrovia Leste-Oeste para o seu governo. Essa importância talvez tenha algo a ver com a denominação de “ano ferroviário” para o ano de 91 dada, em recente entrevista, pelo ministro da Infra-Estrutura, o qual, por sinal, tem como seu secretário geral o conterrâneo Simá de Freitas, nomeação destacável por si só, mas que também pode constituir mais uma evidência em favor do nosso antigo sonho ferroviário.
     Destaca-se no caso da ferrovia o compromisso público do governador de São Paulo, que quer ser presidente, em iniciar a tão esperada ponte sobre o rio Paraná. Cabe ser lembrado também o dispendioso encarte na revista Veja, patrocinado por Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo, defendendo que a ferrovia passe por seus territórios. Assim, a ligação ferroviária virou um projeto nacional, restando saber qual o seu percurso. Por que não começar por Cuiabá enquanto se discute o resto?
     Outra questão pendente era a saída para o Pacífico através da Bolívia, e as informações são de que a estrada está em construção, ainda que com dificuldades, tanto do lado do Brasil quanto da Bolívia. De qualquer forma em 90 já começaram a se tornar comuns visitas a San Matias.
     Quanto à Usina de Manso, aconteceu aquilo que de melhor poderia ter acontecido: entrou no orçamento da União. Nestes tempos de crise trata-se de algo que não pode ser menosprezado, o que infelizmente vem sendo feito. Foi uma grande conquista, cabendo agora aos políticos e às lideranças mais diretamente interessadas garantir que esses recursos sejam realmente efetivados.
     1989 deixou para 1990 o início da instalação da fábrica da Antártica. Depois de muitas postergações a Licença Ambiental foi concedida e, ao final, não se sabe em que pé está a situação. Um estado que precisa de empregos e renda deve preparar-se para respostas mais rápidas e precisas na área do meio ambiente, principalmente a respeito de indústrias alimentícias e outros tipos de agroindústrias de impactos ambientais relativamente baixos. Se não pudermos ter esse tipo de indústria, que outro tipo de industrialização nos restaria?
     Fora estas questões advindas de anos anteriores, 1990 foi muito restrito em novidades. Foram aprovadas as novas Leis Orgânicas de Cuiabá e Várzea Grande e a prefeitura iniciou a implantação do Instituo de Pesquisas e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá (IPDU). Tivemos finalmente as imagens da TV Universitária e a UFMT poderia fazer o mesmo com a FM Educativa.. Permanece entretanto o absurdo dos cuiabanos e varzeagrandenses não terem acesso as programações das redes Manchete e SBT.
     90 trouxe a seleção brasileira de futebol, e temos a notícia de sua volta em 91. O Muxirum Cuiabano consolidou-se como o grande movimento cultural pelos nossos valores e, na sua esteira, firmou-se a figura de Liu Arruda, criando tipos magníficos, produzindo arte das mais puras em terreno perigosamente próximo ao deboche e ao ridículo.
     Contudo a grande notícia do ano, embora tão pouco divulgada, é a da vinda do Papa João Paulo II à nossa cidade em outubro próximo. Poucas cidades começarão melhor a última década do século. Como os recursos para Manso, esta visita também pode não se efetivar, o que será bem difícil, principalmente se toda a comunidade, com suas autoridades, interessar-se objetivamente pela sua realização.

José Antonio Lemos dos Santos, cuiabano, arquiteto.

(Publicado pelo extinto Jornal do Dia em 05/01/1991)