"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 27 de outubro de 2009

BASE AÉREA DE CÁCERES

José Antonio Lemos dos Santos


     Um dos principais problemas das cidades atualmente, em especial no Brasil, é a insegurança pública que lhes impõe um quadro dramático, piorado com fortes pinceladas de uma violência jamais vista, mesmo nas piores cenas bélicas. É sabido que esta situação agrava-se a olhos vistos fomentada pelo tráfico de drogas, de armas e de veículos, que se articula em um poderoso esquema internacional que vem submetendo aos seus interesses e caprichos povos do mundo inteiro, em especial os jovens. Semana passada a Polícia Rodoviária Federal apreendeu no Trevo do Lagarto um carregamento ilegal de armas modernas e poderosas destinadas ao Rio de Janeiro. O transportador informou que essa era a terceira viagem desse tipo que fazia. Quantas outras cargas já teriam passado por outros? Na semana imediatamente anterior foi apreendida uma enorme carga de cocaína. No mês passado foi descoberta uma fazenda no pantanal, usada para distribuição das drogas que chegavam por avião. E por aí vamos.
     Esta situação me lembrou que em maio deste ano foi noticiada a criação pelo Ministério da Defesa e pela FAB, com apoio do Governo do Estado, de uma Base Aérea do CIOPAER em Cáceres. Como anda esta importante iniciativa? Fora o artigo aqui no Diário de Cuiabá no qual saudei a nova Base Aérea, não vi qualquer outra manifestação falada, escrita ou televisionada sobre o assunto, como se fosse algo sem a menor importância para o estado e para a qualidade de vida de nossa gente, gente não só de Cuiabá, mas de todo Mato Grosso. Que fim levou?
     Vale destacar que jamais será suficientemente enaltecido o trabalho das diversas polícias federais e estaduais e do Exército, bem como a importância da continuidade dos investimentos oficiais nas ações terrestres na fronteira. As constantes prisões e apreensões atestam esse valioso e corajoso trabalho. Mas, em se tratando de fronteira, convém lembrar que Mato Grosso é um dos únicos estados do Brasil a não dispor de uma Base Aérea. Mato Grosso do Sul e Rondônia têm e Goiás também tem, mesmo vizinha a de Brasília. Considerando os 1100 quilômetros de fronteira do estado – dos quais 700 em fronteira seca, e que seu território equivale a mais de 10% do território nacional, o absurdo dessa situação salta aos olhos. O problema se agrava na medida em que toda a fronteira nacional está protegida, inclusive por Bases Aéreas, forçando as rotas do crime para seu ponto mais fraco, que fica justamente na nossa fronteira. Temo que sem um sistemático apoio aéreo o trabalho terrestre ficará sempre aquém de suas reais possibilidades, fragilizando o controle da fronteira.
     Soube que a Base Aérea teria sido prometida por um político do estado para uma outra cidade, mas não creio que este seja o motivo do aparente pouco caso para com a nova Base Aérea em Cáceres. A decisão do Ministério da Defesa é lógica. Cáceres tem uma posição estratégica privilegiada à montante do Pantanal, próxima aos maiores núcleos urbanos do Estado, assim como uma localização central em termos da fronteira a ser vigiada, dispondo de uma pista asfaltada de 1850x30 metros, capaz de descer Boeings, prontinha e ociosa, podendo ser imediatamente disponibilizada a esse urgente esforço nacional pela segurança pública. Junto à fronteira, Cáceres parece ser mais efetiva do que qualquer outra cidade mato-grossense nessa questão. A existência física da Base por si só funcionará como um elemento inibidor às ações criminosas na fronteira e a escolha de Cáceres é uma mostra de que o governo federal priorizou este combate, importante para Mato Grosso e para todo o Brasil, até mesmo como preparativo para a Copa do Mundo e as Olimpíadas que o Brasil se desafiou a sediar.
(Publicado em 27/10/2009)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CENTRO DE CULTURA SUL-AMERICANA

José Antonio Lemos dos Santos

     A proposta do presidente da Câmara Municipal de Cuiabá de construção de uma nova sede para o legislativo cuiabano leva ao resgate da antiga idéia de um centro de cultura sul-americana a ser criado no exato centro geodésico da América do Sul, como uma alternativa de ocupação digna daquele espaço e de aproveitamento de um dos mais ricos potenciais geradores de emprego e renda em Cuiabá. Recorda artigos em que tratei do tema, como o publicado em 1986 em “O Estado de Mato Grosso”, capeando caderno especial sobre o assunto no qual expus a preocupação: “Vamos imaginar que a tendência se confirme e a nossa Assembléia Legislativa seja deslocada para outro ponto da cidade. Teríamos a desocupação do prédio onde ela se instala atualmente. E daí? Como vai ser utilizado? Poderia ser a Câmara de Vereadores de Cuiabá, a qual entretanto já está com sua sede em construção. Naturalmente que o prédio vai ser ocupado de alguma forma. Por que não começarmos a pensar numa forma de utilização que esteja à altura da carga simbólica que envolve aquele espaço?”.
     A partir desta pergunta o artigo rascunha a idéia do centro cultural sul-americano, e é seguido por opiniões de personalidades locais, quase todas favoráveis. Aparentemente apenas um exercício de futurologia com uma bola de cristal sortuda, mas que as décadas mostraram ser mais que isso. A idéia era, e ainda é, transformar aquele espaço em um centro referencial para a cultura sul-americana. Um lugar onde fossem desenvolvidos estudos, cursos, exposições, congressos, festivais e outras atividades sobre as manifestações populares autênticas do continente como, por exemplo, as diversas línguas (o quíchua, o aimará, o guarani e outras), a gastronomia, danças, oficinas de ensino e fabricação de instrumentos musicais como a belíssima harpa paraguaia, o charango, as flautas andinas, a nossa viola de cocho, etc. Talvez até um local para encontros comerciais e de cúpulas políticas continentais. No mínimo poderia ser promovida uma festa anual comemorando, em um grande abraço continental, a cultura popular do continente com barracas de cada país, musica, dança, comidas típicas, a ser realizada em julho, mês natalício de Simon Bolívar, idealizador pioneiro da integração continental.
     Estivesse o centro geodésico em qualquer lugar, há muito estaria rendendo em favor de sua gente como uma atração turística importante, ainda mais nesta época em que a integração do continente avança, a qual o governo federal parece dedicar especial carinho. Cuiabá tem o principal, que nenhuma outra cidade tem, o marco geodésico construído pelo Marechal Rondon, reconhecido mundialmente como um dos mais ilustres personagens da humanidade, e um espaço físico praticamente pronto para ser ocupado. Tem ainda colônias de quase todos os países do continente que, inclusive, em fins dos anos 80 realizaram uma festa, simples, mas animada, em torno do marco geodésico. E tem ainda o interesse do governador Blairo Maggi, manifestado na mudança da Assembléia para o CPA, quando quis dar esta finalidade à antiga sede, impedido pela ocupação do edifício pelos vereadores.
     Junto com as belezas do Pantanal e da Chapada, com as termas de São Vicente, e a visibilidade da Copa, a criação de um centro cultural sul-americano no exato centro geodésico da América do Sul transformará Cuiabá em um pacote múltiplo de atrações extremamente vantajoso ao investimento do turista nacional e internacional. Empregos, renda e desenvolvimento, principalmente cultural, é o que Cuiabá e Mato Grosso ganharão com o aproveitamento dessa extraordinária riqueza latente. Um dia acontecerá. E pode ser agora.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 22/10/2009), excepcionalmente numa quinta-feira)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A PONTE DO SUCURI

José Antonio Lemos dos Santos


     A viabilização de uma nova saída para a região norte do Estado através estrada da Guia (MT-010) como alternativa emergencial ao trecho da BR-163 tristemente conhecido como “rodovia da morte”, trouxe para a cidade o problema de um novo acesso rodoviário com considerável volume de tráfego. Esta situação, com suas perspectivas, deve ser a origem do projeto de ligação direta da estrada da Guia em Cuiabá à BR-163 em Várzea Grande, próximo ao Trevo do Lagarto, através de uma nova ponte sobre o rio Cuiabá nas proximidades da região do Sucuri, permitindo que o novo tráfego rodoviário contorne a cidade, só realizando a conexão urbana na Rodovia dos Imigrantes (VECO-S), construída para isso, ainda que exigindo uma readequação completa às condições atuais de tráfego. Porém, este projeto urgente, a que refiro como “contorno oeste”, foi integrado a um outro, antigo - conhecido como “contorno norte” - e passou a compor o chamado Rodoanel de Cuiabá, desprezando-se o trecho do rio Cuiabá até a BR-163, em Várzea Grande, sem o qual perde seu importante objetivo original.
     A ligação da saída da Guia com o Trevo do Lagarto está entre as obras mais urgentes para a Cuiabá de hoje e para o êxito da Copa do Pantanal, em 2014. Sem ela, o novo fluxo de veículos incide diretamente na rótula do antigo posto da Polícia Rodoviária Estadual, na saída para a Chapada, já dentro da cidade, demandando a seguir a Avenida República do Líbano e posteriormente a Miguel Sutil, para chegar enfim à Ponte Mário Andreazza e daí ao Trevo do Lagarto. Todo o percurso em Cuiabá é feito em plena cidade, contornando a região do Verdão onde estará o palco maior da Copa, fazendo uso de vias que hoje já se apresentam em estado crítico de tráfego. A crônica situação de crescentes engarrafamentos na Avenida Miguel Sutil entre a Rodoviária e o Santa Rosa certamente reflete também o aumento de tráfego oriundo do novo – e importante, repito – acesso rodoviário. A situação é preocupante ainda que se pudesse confiar que o novo acesso será restrito a veículos leves, como dizem as autoridades.
     Importante é que esta obra, conforme as notícias, já conta com recursos assegurados por emendas federais e independe de novos recursos trazidos pela Copa, estando inclusive próxima a conclusão de seu primeiro trecho, todo em Cuiabá, entre as estradas nova e velha da Guia. Mas, esta obra terá que ser realizada em sua totalidade para cumprir seu objetivo, que é o de levar o tráfego da estrada Guia em Cuiabá até a BR-163 em Várzea Grande, com fluidez e segurança, sem prejudicar a cidade e sem ser prejudicado por ela. A conclusão desse primeiro trecho é a realização de uma etapa de um projeto maior, hoje indispensável para a cidade, que deve ter seqüência imediata com a execução da nova ponte sobre o rio Cuiabá e do trecho até a BR-163, em Várzea Grande. Sem a execução total desse “contorno oeste”, a tendência é de agravamento de uma situação que já é grave, uma vez que, chegando à Avenida Antártica o tráfego rodoviário terá que buscar a Miguel Sutil através da rótula do Santa Rosa, já em colapso.
     A preocupação é que, pelo avanço das obras, a prioridade parece ter sido dada ao sentido oposto a aquele que é realmente urgente, isto é, a prioridade hoje parece ser a execução do antigo “contorno norte”, em direção ao Sinuelo, em um percurso que excluí Várzea Grande e o Distrito Industrial de Cuiabá e sua Zona de Alto Impacto, importantes destinos do tráfego rodoviário, ao invés da busca imediata da saída pelo Trevo do Lagarto e Rodovia dos Imigrantes, pela nova ponte do Sucuri. Sem uma reavaliação urbanística dessa priorização o prognóstico é o desastre. Para já e para a Copa.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 06/10/2009)