"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



sábado, 12 de novembro de 2016

RECONSTRUIR A REPÚBLICA

             
                

José Antonio Lemos dos Santos
     A comemoração da Proclamação da República é uma oportunidade para se lembrar do grande desafio deixado aos brasileiros pelo papa Francisco quando esteve por aqui em 2013, pouco divulgado entre nós, até pela própria Igreja, talvez pela grandeza do desafio, mais provável porém pela sua inconveniência para alguns. Deveria interessar em especial aos cidadãos que, ungidos pelo voto, transformaram-se em novos políticos, vereadores e prefeitos, que trazem a esperança de transformações nas práticas públicas.
     Na perspectiva dessa mesma esperança o papa no Teatro Municipal do Rio de Janeiro disse aos brasileiros que o “futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a Política, que é uma das formas mais altas da Caridade.” Ouvi “ao vivo” pela TV e fiquei surpreso pois, ao menos no Brasil, nada parece mais “nada a ver” com a Caridade que a política. Superada a incredulidade entendi que a “política” referida pelo papa era aquela com “P” maiúsculo, a da doação do cidadão à causa do bem comum, da coisa pública, a “res-publica” que deveria ser o objetivo maior desta nação proclamada republicana a 15 de novembro de 1889.
Imagem da capa do jornal A Gazeta de Cuiabá de 12 de dezembro de 1889 publicando notícia da Proclamação da República - armazenado no Arquivo Público de Mato Grosso - Renê Dióz G1/MT


     Infelizmente no Brasil as saúvas venceram corroendo a República e a arte nobre da verdadeira Política, que perdeu então o seu “P” maiúsculo e seu foco no bem comum. A coisa pública passou a ser tratada como um butim eleitoreiro a ser usado em função de interesses pessoais, grupais, empresariais ou partidários que se misturam a cada 2 anos nas mais esdrúxulas combinações e transações, iludindo o cidadão eleitor, que ao final paga o pato em todos os sentidos, ao perder sua nação, sua cidade, e ficar com a conta e a culpa de tudo.
     Os tempos de hoje parecem ser ideais para o resgate do desafio papal. O Brasil chegou ao paroxismo, ao fundo do poço definitivo, depois de muitas vezes ter dado a impressão tê-lo alcançado. O povo sai às ruas indignado com esta situação na qual lhe é arrancado cerca de 40% de tudo o que produz apenas para a manutenção de uma pirâmide político-administrativa de cargos regiamente remunerados, dedicada a subtrair o patrimônio público, roubo a mãos cheias, surrupio às escâncaras que vão muito além dos 40% do que lhe é imposto oficialmente. Cada dia mais escândalos que parecem sem fim. Enquanto isso, o bem-comum mingua sob a alegação de falta de recursos, as escolas desmoronam, os hospitais são insuficientes, as estradas matam, a autoridade pública se esvai na desconfiança e desrespeito que se generaliza. As imagens do sofrimento do povo nas filas, no caos diário da metástase urbana, afogados na falta de saneamento e nos preços nos mercados, são imagens de uma nação que virou fumaça. Só se salvará se resgatada pela cidadania e a tarefa inicial é a reconstrução da República, mas reconstrução urgente e de verdade, não só passar um batonzinho como querem alguns, muito menos agir no sentido inverso, como nas matreiras tentativas de se perdoar o “caixa 2”.

     Cuiabá tem ligação especial com a República. Além de ter filhos entre os líderes da Proclamação, teve Dutra como presidente, Dante como restaurador das eleições diretas e os marechais Deodoro e Floriano Peixoto como moradores antes de serem os primeiros presidentes da República. O proclamador de República inclusive casou-se aqui e Floriano foi presidente da província, orgulhoso de ter um filho cuiabano, segundo Rubens de Mendonça. A casa identificada pelo historiador Laurentino Gomes como sendo a do marechal Deodoro em Cuiabá já foi reformada, deixando a situação de abandono e ruínas denunciada por ele. Mas a República proclamada por Deodoro, mais que uma reforma, precisa ser reconstruída para ser reproclamada. E já.
(Publicado em 12/11/16 pelo site NaMarra,  ArquiteturaEscrita, no dia 13/11/15 pelo MidiaNews, no dia 14/11/16 pela Página do Enock, FolhaMax, no dia 17/11 no Diário de Cuiabá,...)

COMENTÁRIOS, 
Na FolhaMax
Zeca Tenuta 14/11/16, 11h32
"Professor, belo texto, porém, antes de culparmos a classe política pelos desmandos citados, temos que atentar para o fato de que é impossível a existência da mesma sem a fundamental participação do eleitor. Fui candidato a um cargo de vereador em Cuiabá, pois, acredito que só participando diretamente do processo eleitoral, poderia comprovar as inúmeras denuncias de compra de votos, troca de favores, compromisso com cargos etc. Pois é, a coisa é muito pior do que eu imaginava e mais triste ainda porque a iniciativa de "negociar" o voto parte, infelizmente, do eleitor. Saí do processo me sentindo um idiota, porque acreditava que a minha vida pregressa de comunitário atuante, serviria de passaporte para um desempenho melhor no pleito municipal. Frustrei por constatar que o poder financeiro decide as eleições no nosso país. E o mais desanimador é verificar que as autoridades "competentes" nada fazem para coibir esta nefasta e ilegal prática."
RESPOSTA NO FOLHAMAX 15/11/16
José Antonio Lemos dos Santos
"Prezado Zeca Tenuta. Obrigado pela honra da leitura e a gentileza do comentário. Seu eu pudesse dar um conselho seria para não desanimar. Você como cidadão tentou de boa fé, foi lá no âmago desse nosso sistema eleitoral deturpado, conheceu a triste realidade e nos traz mais um testemunho de quanto é necessária a reconstrução desta nossa República a começar pela reconstrução (não reforma para enganar o povo) do nosso sistema eleitoral perverso já em sua estrutura. Mas seus votos não foram perdidos pois ajudaram o PRP a eleger 2 vereadores que passam ter responsabilidade para com os votos que seu nome e seu prestígio deu a eles, e portanto vamos cobrá-los com toda a ênfase e aplaudi-los quando for o caso."
No HiperNotícias:
Carlos Nunes - 14/11/2016
"Só visualizo uma maneira...SE, em 2018, na próxima eleição, a gente elegesse como presidente da república SÉRGIO MORO, vice JOAQUIM BARBOSA; e renovasse todo Congresso Nacional, colocando uma outra safra de pessoas para fazer política. É como a gente pudesse ZERAR tudo, e escrever uma outra página na história do Brasil. Mas SÉRGIO MORO não será candidato, ele mesmo já informou isso; então teríamos que procurar outro ou outra brasileiro(a) para preencher essa vaga. Quem seria esse herói ou heroína? Não seriam aqueles políticos profissionais, que já ocuparam vários cargos, já foram até eleitos, e deu no que deu: uma Economia arregaçada com 12 milhões de desempregados. Deve existir, em algum lugar do Brasil, a pessoa certa; afinal de contas o país é continental. Apesar de, certa vez, um filósofo grego sair com uma lanterna procurando uma pessoa "justa e honesta", e não ter encontrado ninguém; acho que deve existir aos montes..."
José Laurentino Gomes         20/11/16
"Prezado professor José Antonio, boa noite
Li, dias atrás, o excelente artigo que escreveu sobre a Proclamação da República e a situação do Brasil hoje. A certa altura, o senhot escreve tambem que a casa onde o Marechal Deodoro teria vivivo em Cuiabá, e que vi em ruínas em 2013, acabou de ser restaurada. Sei que há controvérsia a respeito desse imóvel e não se tem certeza se seria, de fato, a casa de Deodoro. Mas a recuperaçao de uma edificio histórico no Brasil é sempre uma rara e boa noticia. Por isso, gostaria de fazer um blog sobre o assunto. O senhor saberia me dizer se alguem ou algum orgao publico teria fotografias dessa casa, antes e depois da restauração? Em caso positivo, poderia me colocar em contato?
Agradeço desde já a sua gentileza.
Um grande abraço e boa semana"



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