"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



domingo, 31 de dezembro de 2017

INESQUECÍVEL, MAS ESQUECIDO.


Veja no link abaixo a imagem indolor e de graça gravada em 360º e a cores, de um dos momentos mais importantes da história de Cuiabá. Copie e cole, vale a pena:   http://360photos.fifa.com/#!startscene=chi_aus




quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

NATAL, PÉROLAS E PORCOS

CristianismoConsciente
José Antonio Lemos dos Santos

     Não se trata da Família Pig do desenho na TV, e sim de nós mesmos, ditos humanos, cidadãos. As coisas em si são boas e belas, pérolas para benefício da Humanidade, mas caídas em mãos humanas é preciso sorte para que não virem lama. Parece que confundimos o barro bíblico que nos modelou com a lama fétida dos chiqueiros e por isso também busquemos a lama para nosso destino enquanto espécie, levando junto tudo o que tocamos. Temos uma notável atração pela porcaria.
     É difícil em pleno Natal iniciar um texto assim, em especial para quem às vezes é criticado justamente por ser otimista e esperançoso, condições aliás indispensáveis ao arquiteto e urbanista. Contudo, pensando bem, ao contrário do que parece, não existe ocasião mais propícia. O Natal ensina que a origem e destino do homem são divinos e não porcos, lembrando a chegada de Deus feito homem para nos ensinar a grande lição, o homem é filho de Deus, obra divina, criado para o bem, para o belo e para o justo. A cada Natal renasce essa esperança do reencontro com o divino e a certeza de ser esse o caminho.
      Enquanto isso, todos vimos o que foi feito da “Casa de Bem Bem”. Uma pérola da cultura mato-grossense, uma joia a ser conservada e reverenciada com carinho. Nada mais compatível aos porcos do que destelhar a casa em pleno período de chuva e parar a obra! Na certa a taipa socada exposta à chuva daria uma boa lama em pleno centro histórico de Cuiabá, área tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional por sua importância nacional.  E não adianta jogar a culpa nas porcas autoridades responsáveis. Tal crime só aconteceu porque somos complacentes com a porcaria deixando que ela avance em seu chafurdar Expresso minha indignação na rede social, escrevo um artigo, desopilo o fígado e fica por isso mesmo. Logo os porcos nos indignarão de novo. Se a cada avanço da porcaria tivéssemos uma reação de fato contundente e objetiva ela não avançaria. Nossa leniência também nos faz porcos, ao menos cumplices da porcaria que assola Cuiabá, e o país.
     Também assistimos complacentes ao absurdo da profusão dos cabos desativados pendurados nos postes da cidade. A porcaria é também aérea. Falam que a prefeitura não pode fazer nada porque não existe lei que obrigue as concessionárias a retirar os cabos obsoletos. Elas que já deviam ter rebaixado a fiação em muitas áreas da cidade agora querem usar nossa paisagem como lixeira. A mesma lei que proíbe o cidadão deixar seu lixo nos logradouros públicos não serve para elas? Presente do Tricentenário? Esperam que algum motoqueiro seja degolado por um desses fios atravessados pelas ruas? Depois virão as lágrimas de crocodilo pela vítima e as promessas de “providências  enérgicas” para que o fato não se repita, lágrimas falsas que o bom português traduz como “de hoje para trás, nunca mais.”  E fica tudo assim.
     Todos sabemos da podriqueira que virou nossa tão sonhada democracia, com os políticos chafurdando felizes às nossas custas. Às vésperas do Natal as câmaras de Cuiabá e Várzea Grande criaram o 13º salário para os vereadores. Falam que é legal mesmo afrontando a Moralidade, um dos princípios da administração pública no país. Pode? E o que fizeram com a Copa, a maior oportunidade de investimentos jamais vista por Cuiabá? Um retrato disso é o novo desbarrancamento da cabeceira da Ponte do São Gonçalo trajeto que se tornou indispensável a boa parte dos cuiabanos. Desculpem-me os porcos, hoje suínos, limpos, por compará-los aos que insistem em querer ser porcos, apesar de sua origem divina. Viva a esperança do Natal do Deus menino!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

POLO DA VERTICALIZAÇÃO

Imagem Jornalggn
José Antonio Lemos dos Santos

     A proposta de Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado para a Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (PDDI/RMVC) em apreciação pelo Conselho de Desenvolvimento Metropolitano (CODEM), predestina-se a ser uma guinada positiva na curva do protagonismo da Baixada Cuiabana no desenvolvimento de Mato Grosso. A proposta elaborada pelo prestigioso Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM) merece atenção aprofundada não só das prefeituras e câmaras de vereadores envolvidas como também dos diversos segmentos organizados da sociedade civil desses municípios que poderão se ver como um time regional, irmãos de águas lutando em conjunto por interesses comuns.
     Tratando-se de um plano de desenvolvimento é evidente que “desenvolvimento” é sua palavra-chave, ainda que desgastada por tanto uso. Desenvolvimento nada mais é do que o contrário de envolvimento, daí des-envolvimento. Simples assim, fugindo ao “tecnocratês” desenvolver é tirar o envoltório ou desembrulhar. Desenvolver uma região é desamarrar, soltar suas potencialidades para que evoluam em plenitude visando a melhoria da qualidade de vida da população. Situado no exato centro do continente sul-americano, com localização estratégica em termos do estado, país e continente, e cerca de um terço da população estadual, o Vale do Rio Cuiabá é um pacote de potencialidades que vão desde o turismo, até sua vocação de grande encontro continental de caminhos, passando pela prestação de serviços político-administrativos, de comércio, saúde, educação, cultura e assistência técnica, que já lhe rendem o maior PIB de Mato Grosso.
     O substancial documento apresentado ao CODEM, quando trata do desenvolvimento econômico o faz através do Programa Economia Regional Dinamizadora desdobrado em componentes denominados Desenvolvimento de Cadeias Produtivas e Redes de Serviços; Alimentando a Metrópole e Plataforma Metropolitana de Logística Integrada, acertados porém muito restritos aos limites da própria região. Como sabemos uma metrópole é um lugar central produtor de bens e serviços voltados a uma região que lhe dá origem e sentido, que no caso da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (RMVC) é muito ampla superando os limites do estado. Esta hinterlândia abriga uma das regiões mais produtivas do planeta em termos de agricultura e pecuária avançadas, mas que ainda sobrevive da exportação de matérias primas sem praticamente qualquer agregação de valor. Agregar valor à produção estadual é um dos maiores senão o maior problema do estado e este é também o maior dos espaços para desenvolvimento da nossa região metropolitana.
     Complementando a importante proposta da Plataforma Metropolitana de Logística Integrada, o PDDI/RMVC poderia contemplar como um componente específico de seu Programa Economia Regional Dinamizadora um corajoso projeto de estruturação da região como polo de verticalização da economia estadual com parques locais especializados, aproveitando tratar-se da principal economia de aglomeração do estado, com farta disponibilidade de mão de obra e estrutura de capacitação profissional, energia, ampla rede hoteleira, bancária e de prestação de serviços diversos. Assim, a par dos beneficiamentos que a produção primária possa ter próximas às suas bases, a RMVC se consolidaria como um polo de produção mais exigente de mão de obra e de complementariedade técnico-industrial, com o boi sendo transformado em sapatos e bolsas, o algodão virando roupas e a soja, girassol e madeira ampliando suas gamas de possibilidades industriais no estado.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

ARQUITETOS, VOOS E FERROVIAS

Imagem AgoraMT
José Antonio Lemos dos Santos

     A quantas anda o voo Cuiabá–Santa Cruz? Antes pergunto, o que tem a ver arquiteto questionando sobre ferrovias, aeroportos ou rodovias? A proximidade do Dia do Arquiteto, dia 15 de dezembro, é boa para tentar esclarecer o que faz e pode fazer o profissional arquiteto e urbanista, atribuições não muito claras ao público em geral. O longo período de permanência no sistema Confea/Crea, sufocada entre mais de uma centena de especializações da engenharia, talvez explique um pouco esse quadro de desinformação sobre tão importante profissão. É certo que a criação ainda recente de um conselho próprio, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o CAU, será um divisor de águas e os profissionais arquitetos e urbanistas voltarão a ter o prestígio social que nunca deveriam ter perdido.
     Afinal, qual a função do arquiteto urbanista? A Arquitetura surgiu junto com o homem em função do atendimento de sua necessidade vital que é o abrigo. A espécie humana não nasceu com sua casinha nas costas como o caracol, ou com habilidade natural para fazê-la, ou para fazer seus habitats coletivos como os formigueiros. Sem abrigo o homem morre. Então a Arquitetura surge com a função de trabalhar o espaço transformando-o em abrigo, que deve ser funcional, seguro, belo e antes de tudo digno. Só que o espaço é contínuo e infinito cabendo ao arquiteto trabalhar desde o espaço interior de uma residência, à própria residência, aos edifícios para diversos fins, aos bairros onde eles estão inseridos, à cidade (a grande casa), indo até ao planejamento regional, dentro da concepção atual holística e globalizada que coloca o planeta como a nossa verdadeira grande casa.
     Na amplitude do espaço contínuo e interconectado o arquiteto e urbanista não pode prescindir da simbiose com outros profissionais especializados em suas respectivas áreas como os diversos ramos da engenharia, sociologia, geografia, biologia e a economia, citando só algumas das parcerias indispensáveis à Arquitetura e ao Urbanismo. No planejamento regional, um dos focos são as redes urbanas configuradoras do espaço de uma região, mas que são configuradas pelos fluxos de informações, mercadorias, capitais, pessoas, etc. Tais fluxos definem as redes urbanas, suas centralidades espaciais e hierarquias funcionais, numa abordagem realmente complexa cuja compreensão não prescinde da interação técnica multiprofissional.
     Trabalhando em diversos programas de desenvolvimento no antigo Minter, na hoje revivida Sudeco, na Comissão de Divisão do Estado de 1977 e no próprio governo do estado, pude constatar na prática a importância dos diversos modais de transporte para o desenvolvimento de uma região e de sua rede de cidades, não só como infraestrutura econômica, mas como base de condições para a melhoria dos padrões de vida de seus habitantes. A definição do trajeto de uma rodovia ou ferrovia cria e desenvolve cidades, mas pode também definhá-las e até matá-las. Cabe ao arquiteto e urbanista envolvido no assunto informar a população sobre as potencialidades e riscos. No caso de Cuiabá sua principal vocação é ser um grande encontro continental de caminhos. Daí a pergunta inicial. A quantas anda o voo Cuiabá – Santa Cruz? Com viabilidade comprovada no interesse de uma das maiores empresas aéreas nacionais, com o Marechal Rondon em condições e autorização do governo boliviano desde agosto passado, o que está faltando? Será necessária a iniciativa de algum outro município, como aconteceu com a proposta de extensão da ferrovia até Nova Mutum e assim passar por Cuiabá?

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A NOTÍCIA DO ANO

revistagloborural
José Antonio Lemos dos Santos

     A ótima notícia para fechar o ano veio de Nova Mutum para Mato Grosso inteiro e, em especial para Cuiabá, Várzea Grande e toda a Baixada Cuiabana com o fórum “Ferrovia e Integração de Modais”, promovido pelo prefeito daquela cidade, Adriano Pivetta. Insisto na questão da ferrovia em Mato Grosso, por tratar-se de assunto vital não só para o agronegócio em si, mas para todos os diversos segmentos de desenvolvimento do estado. Apesar de sua importância a notícia não foi recebida com o destaque merecido. A meu ver era digna de fogos de artifício, banda de música nas praças e um amplo desdobramento em articulações das classes políticas e empresariais de Mato Grosso, em especial em Cuiabá, Várzea Grande, repito. Afinal a ferrovia não é só para levar a produção, mas também para trazer o desenvolvimento.
     Qual a novidade nesse fórum, similar a tantos outros sobre o assunto? A diferença foi as presenças dos presidentes do BNDES e da empresa Rumo, proprietária da ferrovia que chega até Rondonópolis, e do governador do estado, todos eles defendendo a extensão dos trilhos de Rondonópolis até Nova Mutum, para daí seguir aos portos amazônicos e do Pacífico, ou para Goiás. Todos entusiasmados na expectativa do primeiro passo, a expansão dos trilhos de Rondonópolis à Cuiabá. Existiam 3 alternativas divergentes de traçado que se inviabilizavam, pondo em risco até a integridade territorial do estado. Enfim, com a solução mais viável, o fórum trouxe de volta o bom senso aos trilhos.
     Nunca é demais lembrar os prejuízos que a absurda defasagem da atual logística de transportes vem causando a Mato Grosso, o maior produtor agropecuário do Brasil e uma das regiões mais produtivas do planeta. Tais prejuízos apenas começam pela economia com perda de competitividade dos produtos nos diversos mercados nacionais e internacionais. Perda de competitividade pelo alto custo do frete, que implica na supervalorização dos insumos, vazamentos e acidentes com cargas, falta de armazenamento e outras situações que resultam em redução na remuneração do heroico produtor pelo seu trabalho, que em outras condições poderia como agente econômico familiar estar consumindo mais no próprio comércio local de bens e serviços, movimentando toda a cadeia econômica atrelada ao agronegócio.
     A absurda defasagem logística significa também enormes perdas ambientais pela grande produção de gases tóxicos pelos motores das carretas em números irracionais. Pior do que tudo isso é a descabida exposição do mato-grossense ao risco de vida na utilização da atual malha rodoviária seja em viagem de trabalho, turismo ou em busca de serviços médicos e educacionais. Desnecessário maiores comentários sobre o quadro trágico resultante pois cada um de nós tem pelo menos um parente ou amigo vítima de algum acidente rodoviário. Em 2014 ocorreram 4.460 acidentes nas rodovias federais em Mato Grosso, com 283 mortes, mais que a tragédia da boate Kiss que nos faz chorar até hoje a morte de 242 jovens no Rio Grande do Sul. Em um ano! Fora os que morrem depois, ou ficam com sequelas maiores ou menores.
     Toda a gravidade econômica, ambiental e social não é compatível com o pouco caso com que essa importante notícia foi recebida e reverberada pelas lideranças políticas e empresariais de Cuiabá e Várzea Grande principalmente. Sinceramente já esperava esse desinteresse por parte das autoridades e lideranças políticas locais. Para estes, uma ferrovia para Marte talvez despertasse maior interesse. Mas era de se esperar muito mais das lideranças comunitárias e empresariais, em especial destas. Que não fosse pelos grãos perdidos, mas pelas vidas ceifadas.